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E se... todo mundo fosse magro?

  • Kelly Damasceno
  • 26 de set. de 2019
  • 3 min de leitura

Na obra Intermitências da Morte, o escritor português, ganhador do nobel, José Saramago é perspicaz ao apoiar sua narrativa num mundo onde ninguém mais morre. As, aparentemente, férias da morte causam um rebuliço mundial quando toda uma indústria construída em cima da “única certeza da vida” passa a não ter mais a sinistra contribuição. Esse tipo de pensamento, “e se”, é bacana para fazermos um exercício de reflexão sobre as influências sociais de certas indústrias sobre o nosso comportamento. Nesse sentido, me pego pensando: e se todo mundo fosse magro?


É fato que se isso acontecesse, o padrão de beleza seria outro. A começar pela indústria baseada no conceito de que magreza é a perfeição do corpo. Geralmente, o que é considerado padrão é aquilo a que poucos têm acesso. Se a magreza fosse algo tão normal a ponto de todos serem magros, certamente que o padrão de beleza adotado pela indústria seria outro. As pessoas poderiam querer ser gordas, ou ter alto volume de massa muscular. A publicidade, por sua vez, talvez tivesse como modelo mulheres e homens com gordurinhas a mais. As dietas malucas seguidas por milhares de pessoas poderiam ser para ganhar peso; a culinária, focada na fartura; para citar alguns exemplos.


Na história, nem sempre o conceito de beleza foi o da pessoa magra. Basta que olhemos para as representações de beleza dos séculos passados para percebemos isso. Por exemplo, na obra As Três Graças, do pintor Paul Rubens, de 1635, coxas generosas, o quadril mais largo e o rosto mais cheinho eram o padrão. Num contexto onde a maior parte da população morria de fome e fazer três refeições por dia era considerado um luxo, faz mais sentido que o padrão de beleza fosse ser gordo. Hoje em dia, que temos mais comida à disposição e mais jeitos de conservá-la, ser magro é muito mais difícil, visto que comer é uma das maiores delícias da vida.


Contudo, é uma delícia apenas durante o ato de comer, pois para muita gente, a culpa por ter comido algo gostoso e com valor calórico elevado ainda é um verdadeiro martírio. Quem, geralmente, sofre mais com isso são as mulheres, uma vez que as cobranças com o corpo costumam cair sobre elas. Graças a nossa sociedade constituída sob um modelo patriarcal, sempre coube às mulheres terem um cuidado maior com o corpo.


A jornalista americana Naomi Wolf em seu livro O mito da Beleza, da década de 90, defende que a sociedade costuma possuir mecanismos que dominam a vida da mulher. Num contexto de Guerra Mundial, em que os homens partiram para o combate, as mulheres, que na época ficavam em seus lares, começaram a assumir postos de trabalho, dirigir carros e ter alguns direitos assegurados. Dessa maneira, alguns dos mecanismos de controle vigentes, passaram a deixar de existir e outros surgiram imediatamente; Um deles, o mito da beleza magra, que começou a ganhar força oportunamente quando os homens voltaram da guerra e viram “seus lugares” ocupados. Além de cuidar do lar e trabalhar fora, a mulher tinha que ser magra.


Portanto, o que podemos tirar disso é o fato de que padrões são criados e geralmente são colocados como uma maneira de controle social. Na maioria das vezes, temos nossos corpos controlados por padrões que nada dizem a respeito de quem somos. A publicidade nos coloca para correr atrás do corpo perfeito, porque lucra com isso diretamente. Criar uma necessidade no consumidor e nos dizer o que é o “sucesso” são estratégias máximas da publicidade. Contudo, em busca dessas necessidades e fórmulas do “sucesso” vendidas por pessoas que sequer sabem a nossa história e que lucram com a nossa busca para se encaixar num padrão, acabamos por deixar de lado momentos únicos que nos são proporcionados por fazer as pazes com nossa autoestima. Logo, cabe somente a nós, protagonistas de nossos corpos, ter a consciência necessária e a autonomia para viver de acordo com o nosso bem-estar físico e mental, Para mim, isso é sucesso.


 
 
 

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