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Saúde Mental - Setembro Amarelo

  • Kelly Damasceno
  • 12 de set. de 2019
  • 5 min de leitura

Chester Bennington vocalista da banda americana Linkin Park tirou a própria vida aos 41 anos. Dizem que a última foto registrada dele, é aquela em que aparece gargalhando num restaurante, cercado de amigos, algumas horas antes do ocorrido. Chester aparentemente não tinha nenhuma doença, tinha amigos, projetos paralelos, tinha sucesso, dinheiro e fama; algo tão sonhado por muita gente.


Ana Cristina Cesar, poeta carioca moradora de Copacabana, autora de "A Teus Pés" sofria de depressão e se jogou da janela do seu apartamento após algumas tentativas anteriores. Na primeira vez, sua cuidadora conseguiu correr e segurá-la. Na segunda, Ana Cristina C, como era chamada, tirou toda a roupa, se ensaboou inteira e conseguiu se matar, se jogando da janela, sem que a cuidadora a conseguisse salvar. A poeta tinha 31 anos, era respeitada na cena, talentosa, divertida e "bem-sucedida"


A gente costuma pensar que sabe pelo que o outro está passando, mas de fato não sabe. Visto que temos o hábito de sempre olhar para a grama do vizinho, acabamos por nos comparar com ele, em alguma medida colocá-lo como parâmetro, pois eu sou aquilo o que o outro não é. De alguma forma, o meu “eu” para existir, depende de uma alteridade; um outro que eu enxergo, mas não vejo em sua plenitude, uma vez que tudo que eu vejo está condicionado ao meu ponto de vista.


Além disso, não nos vemos da mesma forma que os outros veem, o que faz com que criemos uma persona dissociada do que o outro criou. Isso tudo é muito complexo, mas grosso modo, o ponto que eu quero chegar é: projetamos um “eu” para os outros e temos o nosso “eu” íntimo. Isso no nosso consciente, imagine a parte inconsciente de nossa mente, aquela que não percebemos. Nesse sentido, muitas de nossas decisões são pautadas pela imagem que criamos para a sociedade e passamos a vida a manter essa imagem, que é ditada por fatores sociais como a nossa cultura, nossos costumes, nossos tabus, nossas crenças, o mercado de trabalho etc.


Lembro que Foucault diz que o diploma é uma espécie de valor mercantil do saber e que só serve para quem não o tem. Pensando sobre isso e levando em consideração o estilo de vida de algumas pessoas, percebo que o exposto pelo filósofo atinge diversas esferas do viver. Muitas pessoas têm como a concepção de sucesso aquilo que poucos podem ter. Dessa forma, vivem em busca de algo que não pode ser fácil, não pode vir de mão beijada, tem que ser sofrido. Exatamente como essas dietas da moda, a busca pelo corpo perfeito e os padrões estéticos elaborados por uma indústria que lucra cada vez mais com o mal-estar das pessoas, dizendo o que elas têm que evitar, pois é errado você comer algo que gosta, que dê prazer. Como Gracyanne Barbosa, que chora se exercitando e declara em entrevistas que comer não é para ser prazeroso. E assim, o sacrifício passa a ser romantizado, pois seguimos buscando uma vida aparentemente perfeita, sonhos que não são nossos.


Nesse ínterim, declarações como a de Kate Moss ganham o imaginário da sociedade e reproduzem o senso comum. Recentemente, a supermodelo britânica afirmou que não há nada melhor do que se sentir magra. A notícia repercutiu nas redes e ela foi acusada de incentivar distúrbios alimentares; não à toa. É no mínimo irresponsável uma personalidade com esse alcance midiático, ícone da moda dos anos 90, dar uma declaração dessa, num contexto, em que meninas sofrem de graves problemas relacionados à alimentação por conta da exigência da profissão.


Também, a modelo fitness brasileira Mayra Cardi gravou stories no mercado, um dia desses, mostrando as compras de uma pessoa que estava na frente dela na fila do caixa, a qual ela julgava os alimentos, que estavam sendo comprados, pelo valor nutricional somente. Quem é Mayra para criticar o que o outro come ou deixa de comer? Ela ainda coloca a legenda se dizendo chateada por isso. Pera lá. Por mais que fosse ela nutricionista e acompanhasse a sua companheira de fila, não caberia o julgamento baseado numa única refeição que ela sequer viu ser ingerida, apenas comprada. Percebe a quantidade de problema numa postura desse tipo?


Recentemente, li que um suposto comediante chamou de imbecis os jovens que o mandam direct no insta, dizendo que vão se matar. A pior parte disso tudo é que esse pensamento é um senso comum na sociedade. Ainda não aprendemos a lidar com o sofrimento do próximo nem nas ocasiões em que sua dor é visível ou seu pesar audível. Somos tão bombardeados com tragédias diariamente, que passamos a relativizar o sofrimento. Isso até pela nossa própria saúde, já que se não o fizéssemos, não conseguiríamos viver. Como já disse o poeta, acho que o que a vida quer da gente é coragem. Coragem para admitir que somos falhos e que não damos a devida atenção ao sofrimento alheio. Aliás, damos nem para o nosso, quem dirá para o do outro.


Dizem por aí que a depressão é doença do mimimi que os antigos não tinham depressão, que antigamente não tinha esse negócio de terapia. Será? O quanto sabemos sobre o que nossos pais já passaram? O quanto sabemos sobre o tanto de lágrimas que eles já derramaram? O peso de suas dores, o que já tiveram de fazer pela família, pela sociedade, pela própria sobrevivência…


Era outra época, outras demandas, outras práticas sociais, outras doenças. Recordo que no século XIX, o século em que se começou a abrir os cadáveres em nome da ciência, mulheres morriam na mesa de parto de febre puerperal e ninguém sabia dizer o porquê. Acontece que os médicos mexiam muito em cadáveres para estudo e não lavavam as mãos adequadamente antes de fazer um parto. Eu não lembro, porém, o nome do médico que apontou esse problema, mas quando ele propôs a solução - higiene das mãos antes do parto - foi desacreditado.


Paralelamente, hoje em dia, desacreditado é quem tem depressão. É sempre “mimimi”. Falta de namoro, falta de Deus, falta de trabalho, falta de sei lá o quê. “Ah, mas fulano tem tudo, como pode estar com depressão”; “ah, mas depressão é doença de rico, pobre não tem essas coisas não”. Falas como essas, mais atrapalham que ajudam. Depressão é coisa séria. Novos meios de viver em sociedade levam a novas descobertas científicas tanto quanto levam a novas doenças, novas formas de morrer. Não é assunto que se brinque, que se tire sarro. Não é porque o sapato do outro é bonito, que ele não machuque os pés. Não sejamos insensíveis. Pode ser tarde demais.



 
 
 

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