Organização e Prioridade
- Kelly Damasceno
- 3 de jun. de 2019
- 3 min de leitura
Lembro de um episódio de House em que o médico protagonista da série aconselha uma corretora de imóveis a não se deixar disponível de mais em seus horários, uma vez que isso, segundo ele, passaria a impressão de ela estar com poucos clientes, logo, não ser uma profissional requisitada, com pouca demanda. Num país como o nosso, com 13, 2 milhões de desempregados - segundo a última pesquisa do IBGE - é essencial que a relação entre cliente e prestador de serviço, seja no mínimo organizada, visto que a oferta pode ser maior que a procura.
Vamos supor que você chegue em casa lá pelas onze da noite, morta de cansada, não deu tempo de passar no mercado, não deu tempo de passar no hortifruti, afinal o comércio tem seu horário de funcionamento independente da sua rotina. O que isso significa? Para mim, significa que eu priorizei o meu trabalho em vez de priorizar a minha qualidade de vida, isto é, minha alimentação, minha relação com meu corpo, comigo mesma.
Tudo bem, né? Quem nunca? Afinal, as contas não se pagam sozinhas e temos que nos desdobrar para que tudo esteja em harmonia no âmbito financeiro. No entanto, repare o que uma simples escolha de não sair no horário normal do trabalho acarreta no meu dia seguinte: eu cheguei em casa onze da noite, não fiz hortifruti, não fiz mercado, no dia seguinte vou ter que tomar café da manhã na rua, sei que o comércio abre umas seis? Pelo menos a padaria perto de casa sim, acordo contando com isso, saio de casa e sei que minha primeira parada antes do trabalho será na padaria.
O que acontece se eu chego lá e a padaria está fechada? Eu vou ter que procurar outro lugar para tomar café, que pode não ser tão perto assim, que vai me demandar toda uma nova logística, demandar tempo, que provavelmente vou chegar atrasada no consultório, que provavelmente vou atrasar a rotina do meu primeiro paciente, que terá que me esperar, que terá que provavelmente desmarcar outro compromisso, que, que, que…
Ok, confesso que o problema apresentado por mim é meio bobo, né? Tipo, como assim, ficar choramingando por minha padaria não estar aberta, tanta gente sofrendo de fome no mundo, guerras, corrupção, terraplanistas rs....
Relato isso, apenas para explicitar como um pequeno evento, pode mudar o dia de uma pessoa. Organização é fundamental para o corre-corre que resume nossas vidas contemporâneas. Organização vem de organismo. E é disso que se trata, respeitar o seu próprio tempo, consequentemente respeitando o do outro, estar em organismo, em harmonia, em comunhão com o seu tempo, sem achar que o seu é mais importante que o do outro.
Tem a ver com prioridade, isto é, selecionar o que vai ser colocado em primeiro plano. Em se tratando de um consultório que funciona por horários, priorizar o seu cuidado com o corpo é priorizar também o trabalho da pessoa que te acompanha e que dedicou tempo, principalmente, para se especializar não só na área de estudo, como também em questões humanas.
E quando me refiro a questões humanas, me refiro ao entendimento de que não somos máquinas, somos falhos, propensos a paixões, desejos e fracassos; mas se priorizarmos a nossa própria organização, a organização do nosso dia, do nosso tempo, do nosso bem-estar, estamos valorizando o tempo do outro também, pois as decisões que faço, refletem diretamente na vida de alguém. Seja na hora de desmarcar uma consulta, seja na hora de estar com a padaria aberta, sabendo que meu cliente conta comigo.
Segundo o dicionário Priberam: pri·o·ri·da·de (latim tardio prioritas, -atis, do latim prior, -oris, que está mais frente) substantivo feminino. 1. Anterioridade.. 2. Preferência conferida a alguém, relativamente ao tempo de realização do seu direito, com preterição do de outros.
Mil beijos, querid@s!
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